16 de fevereiro de 2016
uma profunda inquietação apodera-se da personagem que, silenciosa, abre os olhos e levanta a cabeça. está adormecida, depois de ter recebido um duro golpe. dirige o olhar para o leitor. chama de volta a falsidade e jura que falará a verdade. a desproporção daquilo que se prepara no suspense e a sua situação real, envolve-a numa espécie de feitiço, estonteante, de que se mantém inteiramente consciente mas vê-se incapaz de resolver o paradoxo. o seu enigma é tão monstruoso que começa a interpretar as palavras de forma incorreta. a perturbação interior transforma-se em ansiedade e a ansiedade em angústia. é impossível ficar indiferente ao seu isolamento. descobre agora todas as omissões propositadas, as incompletudes, a fragmentação, a radicalidade do mutismo mas, pasmada, não consegue sentir cólera pelo que, digamos, de forma tão verdadeira se revela na sua representação. incapaz porém de retornar à sua natureza, mais do que nunca dúbia e incerta, logo a seguir abandona o livro.