17 de novembro de 2015

há nele qualquer coisa que não se descarta facilmente, isso é inequívoco. como uma arma.
mas quando a vês, o que é que sentes?, perguntou G., olhando para o interior da vila cuja primeira porta, do lado direito, cheirava a azeite.
és muito inteligente, disse-lhe, gosto tanto disso.
começámos a percorrer a estrada ao lado dos renques de oliveiras, o crepúsculo ameaçava com frio.
ela não gosta de mim, declarei.
gosta sim, respondeu G., com uma certa impaciência, mas com um tom que, por me parecer realista, se tornou inquietante. quis responder-lhe com um não fulminante, que a enchesse de vergonha. mas fiquei em silêncio. subitamente tornou-se claro que o motivo da sua vinda era outro. a atmosfera inclinou-se para um recolhimento quase absoluto. ouvi os animais, os bois, os cavalos, os cães, e, mais longínquo, o som irreversível de uma máquina, um carro que passava a caminho da autoestrada por trás dos montes e das casas. sem qualquer receio disse-lhe que esta noite já não íamos a lado nenhum.