12 de outubro de 2015

o meu olhar abandonou a delicada sombra da teia no mesmo instante. escrevi seis palavras e o olhar atirou-se para dentro do inimaginável. ouro, panos, tristeza, conspirações, e uma voz edificante, inflexível e clara, da qual desconfio e profundamente desprezo. nesse momento, redigi uma carta. lisboa, 3 de novembro de 1988. tinha rabiscado uns apontamentos, agora incompreensíveis. escrevi-a na mesma. o espaço mergulhou num êxtase silencioso raro, preparei-me para o exílio. hora cativa, que me desaloja do tédio, hora desvanecida, cujo som acorda o mancebo: a minha admiração se perde nela.