Não quero negativar a vibe de ninguém. Só ando desacreditado da vida e
sem a mínima vontade de interagir com o mundo. Tem dias que acordo
pensando em tomar 4 cartelas de remédios ou amarrar uma corda no
pescoço e foda-se. Estou falido. Deprimido. Doente. Diabético e com
suspeita de câncer no reto. Doença que quase matou meu pai tempo desses.
Uma dor desgraçada no cu que lateja e arde o dia inteiro, mas ontem deu
uma melhorada e uma mulher vomitou no meu pé e disse que precisava
de um filho. Que se eu podia dar um filho pra ela. Eu disse que era
estéril. Que a literatura já enchia muito meu saco e que não tinha
cabeça e responsabilidade para cuidar de uma criança. Que tinha um casal
de cães. O Bakunin e a Anais Nin. Então começou a chover e nos
abrigamos embaixo da marquise de uma igreja abandonada e ela não parava
de falar. Acendeu um baseado de pasta de cocaína com maconha e perguntou
o que era literatura e me chamou de gay. Que se eu fosse homem de
verdade treparia com ela ali mesmo. No chão sujo cheirando a baba de
mendigo. Lembrei de uma tia evangélica que acha que homem solteiro com
mais de trinta anos é bicha ou doente mental. Talvez eu seja doente
mental. Quem abandona tudo para fazer literatura é louco. Aí a maluca
tirou a blusa. Os mamilos roxos e inchados. Como se fossem chupados
todos os dias. Eu disse "não precisa disso, gata. Segura a tua onda.
Veste tua blusa." aí ela começou a gritar "você vai me comer! Homem
nenhum faz desfeita da minha boceta" aí começou a dar tapas na barriga. "você vai ter que me comer!" aí acendi meu derby e dei uma golada pesada
na minha garrafa de conhaque e fui caminhando até uma viatura parar e
um soldado perguntar por que não comi a dona. Ele perguntou rindo. O dia
clareando e algo dentro de mim dizendo "não tem como abandonar a
literatura, cara. Mesmo que você queira. É algo mais forte que tudo."
Abro um sorriso e entro na minha rua cheia de urubus revirando lixo.
Diego Moraes, publicado no facebook no dia 23 de outubro às 12:26.