3 de maio de 2015

Pouco a pouco, anunciada por um caos de muralhas derrubadas, esgotos a descoberto, pardieiros, fábricas mal acabadas de construir e já em desuso - destelhadas - com os esqueletos de ferro contorcidos e contra a luz cada vez mais intensa e encadeante - restos de pequenos burgos medievais e manchados como por uma devorada humidade tropical - apareceu uma cidade interminável. Ao fundo brilhava o mar. O ar estava carregado de um fedor indefinível: merda, gases, esgotos, mas também terra adubada de hortas, limões podres, enxofre e algo perdido, sufocante, que não era senão a poeira da pobreza.

Pier Paolo Pasolini, Petróleo.