11 de abril de 2015

Há na intimidade um limiar sagrado,
encantamento e paixão não o podem transpor -
mesmo que no silêncio assustador se fundam
os lábios e o coração se rasgue de amor.

Onde a amizade nada pode nem os anos
da felicidade mais sublime e ardente,
onde a alma é livre, e se torna estranha
à vagarosa volúpia e seu langor lento.

Quem corre para o limiar é louco, e quem
o alcançar é ferido de aflição.
Agora compreendes porque já não bate
sob a tua mão em concha o meu coração.

Anna Akhmátova, Só o Sangue Cheira a Sangue, 1915.