31 de outubro de 2014

As sombras chinesas que fazíamos no quarto, antes de adormecer, eram o nosso no man's land. Uma terra onde as desmesuras se impunham ao plano da paisagem e reequacionavam as suas hierarquias. Nenhuma soberania a regulava, nem mesmo a dos contornos, constantemente desfeitos para dar lugar a outras formas e sequer mesmo a das formas, pois algumas delas eram extraordinariamente abstratas e os matizes das sombras eram inumeráveis. Por isto mesmo, era uma terra que queríamos habitar, isto é: queríamos transformar-nos nas sombras e que as sombras se transformassem em nós. Só assim poderíamos saber verdadeiramente o que era a sombra.