A maior história de sempre é a da Bela Adormecida. Questões de natureza, como as que são levantadas na história do escorpião e do sapo, não me mantinham acordada quando a minha mãe enfim se levantava e saía do quarto. O choque da compreensão de todos os porquês causava-me uma certa alegria, ainda que por vezes uma alegria ansiosa do futuro, ansiosa pelo momento em que pudesse ver todas essas coisas manifestarem-se aos meus olhos: o mundo tal como ele é fascinava-me. Na história da Bela Adormecida havia contudo algo que era acrescentado ao mundo. E esses símbolos intrigavam-me.
O primeiro momento está logo no início: os dons das fadas. Dons que se oferecem, poderes a que a as nossas decisões se subordinassem. Não conseguia perceber a sua origem e o seu fim e contudo toda a história estava já contada neles, apenas não acontecida. O que significava então acontecer?
O momento posterior são os 100 anos do sono em que a princesa e o seu reinado mergulham e a floresta de espinhos que os envolve. Apenas aqueles que não fazem parte desse mundo permanecem acordados e apesar de serem vários os intrépidos aventureiros, há um cuja aproximação basta para desfazer os espinhos. Isto parecia-me injusto e deixava-me com vontade de resgatar os mortos: se nem sequer teve de enfrentar espinhos, que raio de força era a desse príncipe?
Restava enfim esse país de sono, vedado, interdito, secreto, e o que haveria nele, sonhos ou pesadelos, de que não era possível acordar.