26 de julho de 2014

Quatro homens estão sentados na esplanada do café de um bairro de subúrbio. Um quinto está em pé e fala com uma garrafa de cerveja na mão. Os quatro homens ouvem o seu monólogo sem nunca dizer palavra mas acompanhando a conversa através de gestos, expressões faciais e sons.

- E eram ciganos. Eram todos ciganos. Ela era cigana. Aquilo era cá uma mistura. Que raça...! Eram de um lado pretos e do outro ciganos.

Faz uma pausa. Olha para a frente, à primeira vista parece estar a olhar para o homem sentado à sua frente mas na verdade está a olhar para o vazio. Depois continua:

- Ah e mais! A mãe dela era prostituta.

O que se subentende é que as putas são uma raça. Todos esboçam um sorriso enquanto gesticulam para o lado e olham uns para os outros e para as pessoas perto da entrada do café. Aproxima-se um outro homem. O falador dá-lhe uma palmada por trás do ombro para o cumprimentar mas sem nunca parar o recém chegado diz-lhe:

- Não me toques.

Há um momento de silêncio pesado. O falador fixou o olhar no recém chegado e de risonho passou a sisudo. Todos esperam a sua reação. Começa a dirigir-lhe piadas por meio de perguntas que não recebem resposta, enquanto o recém chegado acende um cigarro em pé perto da porta do café e me observa como se eu não o estivesse também a ver. Com o cigarro pendurado nos lábios, finalmente esboça um sorriso e responde-lhe qualquer coisa entredentes. Entre a sua chegada e a minha partida, nunca chegou a olhar para ele.