Passeio no jardim ao final da tarde com um sentimento de enorme tranquilidade. Sentada no quiosque a ler, desinquieta-me a vontade de escrever e logo me levanto para correr para casa. Apesar da pressa, quando começo a andar fico presa num passo lento e arrastado, que de tão lento me aflige. Estarei doente? Será cansaço? Poderá este cansaço ser normal? Estarei a envelhecer assim tão vertiginosamente? Tenho dores no corpo, talvez alguma doença esteja a anunciar-se. Já começou a chegar o outono?
Em vez de a contrariar, enquanto espreito a incógnita, decido colocar ainda mais lentidão nos meus passos, e reparo que aquele caminhar me conforta. Percebo, não sem algum tumulto, que aquele é um passo muito próprio, um tempo muito próprio: o meu próprio. Continuarei assim até ter descido a ladeira e chegado a casa. Passeio no jardim ao final da tarde, estou dentro da sombra das copas das árvores sobrepostas umas às outras, dentro dos seus profundos matizes de verde, de sombra e das cores das flores que mal acabaram de nascer já começaram a cair, das folhas largas que me lembram como sou pequena. Ao passar pelo portão algo se torna claro.