27 de julho de 2014

Escondidos do calor daquela tarde, seis amigos escolhem filmes que não chegam a ver. Falar sobre o futuro, subitamente demasiado próximo, é a única coisa que na verdade todos querem fazer. Dali a um mês começa o último ano de escola, mais um para a maioria, decisivo para R., que talvez por isso não quer conversar sobre o futuro. Sobre ele tudo o que precisa de saber é que o tempo está a chegar ao fim: mais ninguém a pode reter naquele lugar. Um último esforço e a tagarelice e a asfixia cessarão. Nada mais importa, nem mesmo o que suceda a partir daí, desde que não volte. Sentada no sofá, espera o tempo passar refugiando-se no silêncio. «O que tens?», «Nada», que tu possas entender, acrescenta para si, pois mais ninguém parece dar-se conta que aquela tarde é uma prisão.
O nome dele numa conversa paralela fá-la voltar a cabeça e tendo-o ouvido claramente, deseja voltar a ouvi-lo. Não sabia de quem era aquele nome. O que havia num nome que era apenas um nome, e até agora desconhecido, ao ponto de a fazer voltar a cabeça?
Pergunta sobre o que estão a falar, explicam-lhe que é sobre um professor, um professor muito bom, que dá belas aulas. Duas ou três frases bastam para que R. saia da casa a correr, sem se despedir e sem dar explicações a ninguém. Debaixo do sol tórrido, pergunta-se agora que malefício traz aquele nome para que saiba a importância que terá para ela. Ao passar à frente da escola fechada, pensa que as listas de professores ainda nem estão feitas. Pensa que não percebe mas que sabe. Pensa que aquilo não é normal, está a ter uma alucinação, talvez tenha febre. Sempre que pensa, observa como através de um fino, discreto, fio, uma tranquilidade invariável se mostra: uma certeza. A verdadeira razão da sua perturbação, começa então a compreender, não está no facto daquele ser um tempo prévio aos acontecimentos, um nome prévio à pessoa ou sequer uma súbita claridade no meio da sombra a que se habituou. R. está apenas admirada por ser uma certeza tão pura.