Entrei de noite num táxi perto do Marquês de Pombal e duas frases depois o taxista dizia-me:
O verão é o destino.
Ficámos silenciosos a seguir, melancólicos certamente, porque atravessávamos a noite cujo frio primaveril fazia prolongar infinitamente o inverno. Apesar do cheiro das flores fazer já prenunciar uma mudança, era preciso fé para acreditar nesse destino. O táxi deslizava pelas avenidas, o peso tinha encontrado o coração que o silêncio aliviava um pouco.
Com a mala pesada contra a perna abri o vidro, lembro-me das luzes escaparem um pouco por toda a parte. Não era possível pensar, tal como não se pode pensar na morte quando, em dias muito quentes, sentados à beira-mar, o pensamento cessa.
Tinha um sentimento de exaustão quando abri a porta de casa. Vi-me sem destino, confinada a um instante eterno, uma eternidade sem qualquer repetição. Nenhuma linha saía do meu corpo para o futuro.