Na
verdade, tornou‑se‑me cada vez mais difícil, mesmo insensato, escrever
num inglês normal. E cada vez mais a minha linguagem me aparece como um
véu que tem de ser arrancado para se aceder às coisas (ou ao Nada) por
detrás dele. Gramática e estilo. A mim parece‑me que se tornaram tão
irrelevantes como um fato de banho vitoriano ou a imperturbabilidade de
um verdadeiro cavalheiro. Uma máscara. Tenhamos
a esperança de que virá o tempo, que graças a Deus já chegou em alguns
círculos, em que a linguagem é mais eficientemente usada quando mal
usada. […] Cavar nela um buraco atrás do outro, até que aquilo que está à
espreita por detrás – seja isso alguma coisa ou nada – comece a
emergir. Não consigo imaginar hoje um objetivo mais elevado para um
escritor.
Carta de Samuel Beckett a Alex Kaun, 1937.