Em
1998 fui para Paris onde vivi o que restava desse ano e os 3 anos
seguintes. Casei com um judeu filho de pai córsego e mãe nascida em
Marrocos, cuja avó, viúva de um prospector, vivia no 16ème e cuja tia
tinha desistido do seu laboratório premiado de astrofísica para criar
cabras e fazer queijo numa quinta no sul. Trabalhei e estudei em Paris e
tive a sorte descomunal de viajar. Conheci França de
uma ponta a outra à custa de muito enjoo no carro. Foi lá que vi uma
montanha pela primeira vez. Foi lá que vi um transexual pela primeira
vez. O francês tornou-se a minha segunda língua para descobrir que todos
os sonhos em francês são pesadelos. Quando chegou a altura de decidir
levei seis meses para ter a certeza de que queria regressar a Portugal.
De tudo o que vivi, de todos os rostos que conheci, todos os livros que
trouxe, todas as histórias (e intensas que foram) que se acumularam,
aquilo que recordo com mais vivacidade, e também com mais emoção, são os
meus passeios solitários de dias inteiros pela cidade.