8 de outubro de 2013

Começo a ler Walter Benjamin. Esperei o tempo possível porque gosto de ler em silêncio. É difícil descrever o que se encontra quando há encontro. Estou ainda no início, talvez as palavras surjam entretanto, porque quero dizer: a descrição é a resposta que me resta a um amor que está apenas a nascer. Hoje, enquanto lia, ri. Um riso cristalino, profundo, comovido. O riso mais raro que quase, quase, quase ninguém consegue ouvir. 
Lembro-me perfeitamente da primeira vez que uma pessoa o ouviu. Foi numa aula de filosofia no 12º ano, a primeira em que falávamos de Kant e lemos um parágrafo da Crítica da Razão Pura, não me lembro qual. O professor lia, os alunos estavam debruçados sobre os livros a acompanhar a leitura. Depois do ponto final, dei uma grande gargalhada. Uma gargalhada generosa, sem tirar os olhos do texto de que já procurava o início para reler. Como não se tratava de uma anedota, os meus colegas riram também e disseram que eu era mesmo tonta. Já o professor, ficou muito surpreendido. Olhou para mim com olhos de quem também queria poder rir assim e disse: «Se ris é porque percebeste» e continuou a dar a aula. Foi quando também percebi, ou quando pensei a primeira vez, naquele, meu próprio, riso.


*Léo Férré, On est pas sérieux quand on a dix-sept ans.