8 de setembro de 2013

A contraste do pensamento abstracto, o problema do pensamento analítico é o mesmo do nazismo: a assumpção de primazia. É o pensamento dos mercados, totalizante, sintético, redutor. As perguntas sem resposta, como aquelas que as crianças formulam, não têm aqui lugar. Mas mais do que reduzir a interrogação a uma fórmula que não admite divisões, o pensamento lógico exceptua o pensamento alheio. Não é só a diversidade que está em causa mas a capacidade da dúvida, enquanto matéria criadora. O saber unívoco está sob a grande ameaça do poder.
Daí que o grande projecto da lógica tenha sido sempre a instauração de um sistema de linguagem, uma linguagem analítica que destruísse os problemas filosóficos (coisas estranhas que não se podem conhecer como a estética, a ética, o significado da vida e a fé). Trata-se portanto de um projecto de selecção. Uma selecção pela linguagem. O critério é muito simples: o teu problema ou é falso ou é verdadeiro e pode ou não pode ser verificado. Caso não entre nestes critérios, caput, o teu problema não existe. É essa grande frase de Wittgenstein, corrijam-me à-vontade pois vou citar de cor, "O que pode ser dito pode ser dito claramente mas aquilo de que não podemos falar devemos calar. O que está oculto não interessa.", (devo ter comido umas palavras mas é este o sentido).
O que me irrita – e me fez levar a lógica na garganta tantos anos – é que estes rapazes passam a vida a querer que a gente imagine coisas. Situações, proposições, na lógica analítica nada é feito sem o auxílio da imaginação. Podia ser literatura. Podíamos fazer com a lógica o que o Italo Calvino fez com as cartas de tarôt, quando pegou nelas sem saber nada de tarôt para contar uma história a partir das gravuras nelas inscritas. E a imaginação não é passível de demonstrações verificáveis. Uma coisa é o quotidiano, outra coisa é a vida onde esse quotidiano se dá.