— É que neste país temos de estar duas vezes certos das coisas que amamos.
— Uma defesa contra esta impressão de estarmos a sonhar?
— Sim — disse eu, — faz-me medo. Tenho medo do efémero.
Annemarie Schwarzenbach, Morte na Pérsia.
19 de junho de 2016
18 de junho de 2016
exatamente nesse momento, S. olha para F. pela primeira vez. com igual surpresa — e grande angústia —, o crepúsculo ameaça cair: um galo canta, a sirene da fábrica soa ao longe, a luz cerca-se de uma sombra ténue mas profunda. contraditório, o ar austero de S. é impossível de ignorar e, enquanto a campainha soa várias vezes, F. tem a sensação da alegria cessar completamente. quando lá em baixo o portão se abre, S. mergulha na piscina e, obedecendo ao seu instinto, F. mergulha também. por fim, depois de nadarem umas braçadas, numa voz breve, tem a coragem de falar.
— É engraçado. Mal entro na piscina dá-me vontade de urinar. — S. tem a cabeça baixa e uma expressão estranha nos olhos. F. prossegue: — Achas muito mal que faça aqui?
— Não acho que faça bem.
— Talvez seja assim que me queiras ver. Como um parvo ou um desastrado.
— O que é que quer dizer com isso? — S., que não pode esconder um leve sorriso, está inquietada mas continua: — Não tenho nada a ver com o que você faz.
F. mergulha a cabeça, nada em direção à escada e sai da piscina. — Até já. — diz-lhe, deixando-a a flutuar à deriva. já de costas voltadas e alguns passos adiante, ouve-a responder: — Há sempre a possibilidade de reter água na boca.
— É engraçado. Mal entro na piscina dá-me vontade de urinar. — S. tem a cabeça baixa e uma expressão estranha nos olhos. F. prossegue: — Achas muito mal que faça aqui?
— Não acho que faça bem.
— Talvez seja assim que me queiras ver. Como um parvo ou um desastrado.
— O que é que quer dizer com isso? — S., que não pode esconder um leve sorriso, está inquietada mas continua: — Não tenho nada a ver com o que você faz.
F. mergulha a cabeça, nada em direção à escada e sai da piscina. — Até já. — diz-lhe, deixando-a a flutuar à deriva. já de costas voltadas e alguns passos adiante, ouve-a responder: — Há sempre a possibilidade de reter água na boca.
17 de junho de 2016
S. é uma rapariga qualquer, de calças de ganga e t-shirt comprada na H&M, com a cara cheia de sardas. F. observava o seu longo cabelo preto e os dois mantiveram-se em silêncio porque entre eles não há nada para dizer, a sua presença basta. Nisto, a campainha soa e alguns convivas saem para o jardim com o copo na mão, lançando-lhes um olhar cúmplice. S. não se mexeu, não desviou o olhar, não sorriu, não fingiu ocupar-se com nenhuma ação. Sob aquele sol seco e esplendoroso, a luz transmitia uma profunda paz e, no meio de toda aquela gente que perguntava por quem estava à porta, cujas vozes ecoavam surdas dentro do calor como se fossem inventadas, F. sentiu-se desmaiar. A sua atenção, no entanto, não se desviou dela. Desesperado como um miúdo, cada gesto pesava dentro daquele universo com certa religiosidade, como se estivessem nus, e não servia para mais nada senão para tornar o momento ainda mais mudo. F. descobria-se como um silencioso escravo. Seria capaz de cometer um crime, pensou.
16 de junho de 2016
15 de junho de 2016
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