30 de junho de 2020

de repente estou lá em cima. o horizonte envolve-me. quando levanto os meus olhos da terra, observo a amplitude à minha volta, discernindo claramente todos os pormenores da paisagem. nomeio-os por instantes, para saborear melhor o meu regozijo: sol, floresta, cidade, gato. assim que decido voltar apenas a observar, o prazer esgotou-se. percebo imediatamente que a descida deverá começar em breve e que não voltarei.

26 de junho de 2020

as flores dos jacarandás caíram
este tempo é teu
atravessamos o rio
alimento-me com a tua juventude
a minha atenção veloz
despede-se dela

25 de junho de 2020

A partir daqui

A partir daqui isto não tem nada a ver contigo.
Sento-me no degrau de uma porta
À espera de alguém,
Mas não espero nada.
Tenho uma reunião daqui a pouco,
Mas não irei.
A minha irmã espera um telefonema meu,
Mas somos estranhas.
A solidão que se apresenta
É imprecisa, extraordinária,
Distribui-se pelo corpo como um formigueiro
E sela o silêncio com o silêncio.
A partir daqui deixas de ter nome
E tudo o que conheço de ti passa a ser incriado,
perfeito e sólido,
sem fim.

24 de junho de 2020

quero sentir-me como um animal selvagem enquanto escrevo.

2 de junho de 2020

No one is born hating another person because of the color of his skin, or his background, or his religion. People must learn to hate, and if they can learn to hate, they can be taught to love, for love comes more naturally to the human heart than its opposite.

Nelson Mandela