31 de dezembro de 2018
Pela primeira vez desde que vivo sozinha (há mais de 20 anos), não fiz decorações de Natal em casa. Não montei a árvore nem pus o presépio cá fora, não pendurei a grinalda na porta e a rena na parede, não acendi as luzes. A perda da minha mãe trouxe-me uma liberdade sem orgulho, que gozo perplexa. Ao mesmo tempo que quero deixar cair todos os enfeites, sinto o exemplo dela a seguir cada vez com mais força. Se, por um lado, rejeito convenções, por outro, é com os outros que vejo que faz sentido estar. Tudo o que me rouba tempo para a partilha é fútil. Creio inclusivé que a minha escrita beneficiaria muito disso: não basta ler e escrever, há que dar-se ao confronto. E construir.
20 de dezembro de 2018
How much better is silence; the coffee cup, the table. How much better
to sit by myself like the solitary sea-bird that opens its wings on the
stake. Let me sit here for ever with bare things, this coffee cup, this
knife, this fork, things in themselves, myself being myself.
Virginia Woolf, The Waves.
Virginia Woolf, The Waves.
19 de dezembro de 2018
desde que escrevo no tinyletter que praticamente deixei de escrever no blogue, desobedecendo às minhas próprias regras destinadas a manter, contra a vulgaridade, o fel e a mediania quotidianos, uma disciplina de escrita. escrever estas cartas implica, em princípio, saber a quem se escreve. não é porém a ideia de relação que me atrai, mas antes a ideia de permanecer quase incógnita e de assim, sem dúvida, poder abordar ou desenvolver assuntos difíceis, que exigem o meu investimento total. são afinal esses os assuntos que me apelam obstinadamente, é a eles que pertenço e não o contrário. creio que, por isso, acabarei por começar a escrever sob pseudónimo. é uma ideia que não deixa de me perseguir. na altura em que os blogues surgiram usei um, que apenas alguns amigos conheciam. depois deixei de escrever. deixei de escrever totalmente, num momento de rutura perante o que até então tinha escrito, a meu ver superficial. quando voltei a escrever, debati-me com a necessidade de publicar o que até ali escondia de todos os olhares. comecei a publicar neste blogue, que já foi anónimo e já foi privado. um amigo, que me desafiou a alimentar e a investir mais na escrita — e que entretanto, é curioso, deixou de me ler, num impulso contra um dos meus textos — insistiu comigo sobre ser preferível dar a ver, deixando as palavras seguirem o seu curso, mas sem orfandade. concordei. contudo, interessa-me desaparecer totalmente na escrita. gosto que não se saiba quem sou — e portanto que não haja qualquer possibilidade de emitir juízos sobre a minha vida, expor as minhas ligações e fazer prejuízo quanto aos meus interesses —, tanto quanto gosto de ter um espetro de leitores reduzido, que — imagino — lêem o que lhes envio sem prestar grande atenção.
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