13 de outubro de 2014

Mon cas n'est pas unique: j'ai peur de mourir et je suis navrée d'être au monde. Je n'ai pas travaillé, je n'ai pas étudié. J'ai pleuré, j'ai crié. Les larmes et les cris m'ont pris beaucoup de temps. La torture du temps perdu dès que j'y réfléchis. Je ne peux pas réfléchir longtemps mais je peux me complaire sur une feuille de salade fanée où je n'ai que des regrets à remâcher. Le passé ne nourrit pas. Je m'en irai comme je suis arrivée. Intacte, chargée de mes défauts qui m'ont torturée. J'aurais voulu naître statue, je suis une limace sous mon fumier. Les vertus, les qualités, le courage, la méditation, la culture. Bras croisés, je me suis brisée à ces mots-là.

Violette Leduc, La bâtarde

12 de outubro de 2014

tinha uma avó que comia medula
e era isso que fazia dela uma pessoa muito velha
como se fosse descendente direta
dos primeiros homens
que povoaram a terra
e cuja melancolia
deu origem à civilização

não se sabe onde teve origem
mas desde que existe
o amor nunca envelheceu
a nossa vida
é uma tímida reminiscência
da devastação que deixa
quando desaparece

11 de outubro de 2014

Há textos que gostamos mais de escrever que outros. Talvez porque tenham aquele efeito de livro arrumado, acabado de ler, ao qual não voltamos com a mesma excitação porque sabemos que depois de escalado o muro há um jardim arruinado.
Há textos que escrevemos a que faltam degraus, como dentes, e essas faltas essas falhas, na antecipação de uma paisagem feliz, são a boca toda aberta ao vento.

Raquel Nobre Guerra

9 de outubro de 2014

Alguns narradores contam que Medeia, em fuga, não teve possibilidade de levar consigo os filhos que, perante a negligência de Jasão, foram apedrejados até à morte pela família de Creonte, como vingança.
Contudo, a versão mais conhecida é ainda mais sombria e deve-se a Eurípides, na sua tragédia Medeia, apresentada pela primeira vez em 431 a.C.. Aqui, é a própria Medeia quem mata os filhos antes de fugir para Atenas, não num acesso de loucura, mas num acto de fria e premeditada vingança em relação ao marido infiel. Eurípides foi, na altura, acusado de ceder perante um elevado suborno de cidadãos coríntios que preferiam uma versão onde não fosse o povo daquela cidade a cometer o infanticídio.




De artigo da Wikipédia completo aqui.
os milhares de casais de turistas que passeiam em Lisboa lembram-me que o amor cansa.
Fui ver uma exposição muito estranha, no Museu de São Roque (Visitação, curadoria de Paulo Pires do Vale). Entre os objetos do espólio da Misericórdia de Lisboa expostos, encontram-se alguns exemplos de cartas que eram entregues com as crianças que deixavam na roda. O costume era que a cada criança correspondesse um identificador, entregue com essas cartas, que funcionasse como prova de pertença: apenas quem tivesse a outra metade a poderia resgatar. Pelo menos de acordo com a proporção que é mostrada nas vitrines, a grande maioria das crianças era entregue com cartas de baralho e cautelas de lotaria. Quem as entregava fazia um recorte único, transformando-os em peças de um puzzle. Também há outros exemplos, como cabelo, dados e até uma pequena e incompreensível escultura em palha. Alguns são bastante elaborados, e ricos, como é o caso de uma bolsa de seda vermelha bordada e umas meias de renda branca fina.
Fora da galeria, na igreja de São Roque, estão dois écrãs, cada um com o rosto de uma criança do filme Casa de Lava de Pedro Costa, cuidadosamente escondidos em cada um dos lados do transepto, certamente para não perturbar a oração.




[Em Portugal] a surdez profissional é hoje a primeira na tabela das doenças de trabalho e os números absolutos não parecem cessar de aumentar. (...). No Canadá, os estudos sobre som tiveram uma influência directa na criação de um novo tipo de legislação anti-ruído, mais eficaz, que tem em conta a natureza específica da escuta. Em França, a dimensão sonora do ambiente faz parte dos currículos escolares e é uma valência importante em áreas como a dos estudos artísticos ou a arquitectura, por exemplo. (...). No Japão, há mais de quatrocentas associações que se dedicam ao estudo e preservação do património sonoro. Imagine-se um grupo de cidadãos mobilizado em torno da preservação do simples som de uma fonte ou de uma ponte de bambu.

Carlos Alberto Augusto, Sons e Silêncios da Paisagem Sonora Portuguesa.
O cheiro adocicado a enxofre da heroína, há uns anos, ao passar numa rua do bairro do Alto da Serafina.