I am constantly trying to communicate something incommunicable, to explain something inexplicable, to tell about something I only feel in my bones and which can only be experienced in those bones.
Franz Kafka, carta a Milena Jesenska.
23 de fevereiro de 2015
22 de fevereiro de 2015
sentava-me agora a uma secretária com o meu computador em frente, começava a escrever sobre os meus pais e não saía de lá enquanto não tivesse terminado. comia quando me lembrasse da fome, deitava-me numa cama ou num colchão atrás da secretária para recuperar do sono, saía para caminhar quando alguma coisa me estivesse a bloquear para logo me arrepender e ter de voltar a correr para o computador, eu que odeio correr. o resultado, seria pouco ou seria muito? meia, uma página? cinco, cinquenta, quinhentas páginas? de quanto tempo precisava? de uma tarde, de um mês? um ano, dez? o que tenho para dizer sobre eles? agora sei, neste preciso momento sei, agora começava. agora a indiferença é irrisória. começava pelo fim.
21 de fevereiro de 2015
ora portanto: ando a ler ao meu sobrinho mais velho uma BD que reúne
várias histórias de super heróis. hoje chegámos a uma onde aparece pela
primeira vez a Mulher Maravilha. ela está num planeta qualquer cheio de
gelo e aparece o Batman e o Robin. trocam umas piadas e entretanto ela
diz: «bom, venham para dentro antes que gelem.», ao que o Robin diz
entredentes para o Batman: «se continuares com essas roupas, vai ser
difícil.» e o Batman retorque: «pensamentos puros Robin, mantém os pensamentos puros...».
neste ponto da história, ouvindo o silêncio do meu sobrinho, decidi parar e perguntei-lhe eu «a mulher maravilha é gira?», ao que o meu sobrinho respondeu «hum hum!» acompanhando a interjeição com um aceno de cabeça afirmativo. para minha surpresa, eis que continua (e aqui poderão efetivamente constatar que sim, ele sabe falar): «e aqui há outra! queres veres? (e começa a folhear as páginas, à procura de qualquer coisa no final do livro). eu já vi, está aqui. é a super girl.» decido ajudar. encontro uns desenhos de uma miúda de cabelo comprido loiro atado num rabo de cavalo, mini saia e copa 100b a voar. e pergunto: «gostas desta?» ele diz que sim. e novamente continua: «ela é que é a super menina. mesmo.» eu, que sou macaca e desconheço o que sejam os pensamentos puros de que o Batman estaria a falar, digo-lhe: «que giro, é loira como a mamã não é?». ele sorri. prometi ler mais amanhã e vim embora.
neste ponto da história, ouvindo o silêncio do meu sobrinho, decidi parar e perguntei-lhe eu «a mulher maravilha é gira?», ao que o meu sobrinho respondeu «hum hum!» acompanhando a interjeição com um aceno de cabeça afirmativo. para minha surpresa, eis que continua (e aqui poderão efetivamente constatar que sim, ele sabe falar): «e aqui há outra! queres veres? (e começa a folhear as páginas, à procura de qualquer coisa no final do livro). eu já vi, está aqui. é a super girl.» decido ajudar. encontro uns desenhos de uma miúda de cabelo comprido loiro atado num rabo de cavalo, mini saia e copa 100b a voar. e pergunto: «gostas desta?» ele diz que sim. e novamente continua: «ela é que é a super menina. mesmo.» eu, que sou macaca e desconheço o que sejam os pensamentos puros de que o Batman estaria a falar, digo-lhe: «que giro, é loira como a mamã não é?». ele sorri. prometi ler mais amanhã e vim embora.
agora, alguém me diga que não estamos já neste ponto se faz favor.
17 de fevereiro de 2015
16 de fevereiro de 2015
a criança ri porque a mãe, que conversa com uma pessoa que encontrou na rua, ri. não pode participar na conversa, o conteúdo escapa-lhe, é-lhe estrangeiro. espanta-se sim com a repentina rutura do peso do quotidiano, cuja possibilidade, a princípio, se afigura até incompreensível. perante o frio enigma, a criança pergunta-se qual é o preço a pagar por essa alegria de contágio, de pura perda.
15 de fevereiro de 2015
li agora num comentário no facebook No princípio era o verbo. E esse não nos podem tirar e pensei, quase automaticamente, ai podem podem.
já apenas dou crédito àqueles que se recolhem e protegem do mundo, aos que tomam a sua distância sobre sublevações sociais e movimentos políticos, que se rodeiam de cuidados quando usam palavras, atentos ao que nelas se constitui pelo seu verso, que nos escapa e que incomunicável finalmente nos isola. é a piada da vida.
já apenas dou crédito àqueles que se recolhem e protegem do mundo, aos que tomam a sua distância sobre sublevações sociais e movimentos políticos, que se rodeiam de cuidados quando usam palavras, atentos ao que nelas se constitui pelo seu verso, que nos escapa e que incomunicável finalmente nos isola. é a piada da vida.
14 de fevereiro de 2015
This bitter earth
What a fruit it bears
What good is love
That no one shares
And if my life
Is like the dust
That hides the glow of a rose
What good am I
Heaven only knows
This bitter earth
Can be so cold
Today you're young
Too soon you're old
But while a voice
Within me cries
I'm sure someone
May answer my call
And this bitter earth
May not be so bitter after all
Clyde Otis
What a fruit it bears
What good is love
That no one shares
And if my life
Is like the dust
That hides the glow of a rose
What good am I
Heaven only knows
This bitter earth
Can be so cold
Today you're young
Too soon you're old
But while a voice
Within me cries
I'm sure someone
May answer my call
And this bitter earth
May not be so bitter after all
Clyde Otis
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