I soon got used to being less afraid of dangers, whether real or imaginary, and began to fear more, much more, the moment when others reacted, because I hadn’t known how to react. My girlfriends shrieked because there was a spider? I overcame my disgust and killed it. The man I loved proposed a vacation in the mountains with the obligatory rides on a chairlift? I was dripping with sweat, but I went.
Once, the cat brought in a snake and left it under my bed, and I, with a broom and dustpan, screaming, chased it out. And if someone threatens my daughters, or me, or any human being, or any harmless animal, I resist the desire to run away.
Popular opinion has it that people who react as stubbornly as I’ve trained myself to have real courage, which consists precisely in overcoming fear. But I don’t agree. We fearful-belligerents place at the top of all our fears the fear of losing self-respect. We value ourselves very highly, and in order not to have to face our own humiliation, we are capable of anything. In other words, we drive away our fears not out of altruism but out of egotism.
And so, I have to admit, I’m afraid of myself.
30 de janeiro de 2018
26 de janeiro de 2018
a primeira coisa é o sono
o sonhador aproxima-se dele
como se presidisse ao seu destino
e, fiel, apressa-se a entrar
naquele que é sempre demasiado escasso
até regressar ao princípio.
todas as noites
a terra tensa e húmida
dá um sinal maciço
ao diabo que diz a verdade
e é na voragem de ternura dessa palavra
que tudo se extingue sem razão.
o sonhador aproxima-se dele
como se presidisse ao seu destino
e, fiel, apressa-se a entrar
naquele que é sempre demasiado escasso
até regressar ao princípio.
todas as noites
a terra tensa e húmida
dá um sinal maciço
ao diabo que diz a verdade
e é na voragem de ternura dessa palavra
que tudo se extingue sem razão.
25 de janeiro de 2018
ainda não decidi se uma por semana se uma por mês, mas sei que tem princípio, meio e fim. como diz o Charles Dickens, "uma coisa criada ama-se mesmo antes de existir."
subscrição aqui: https://tinyletter.com/fogoslocais
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FLOR AZUL, de Raul Domingues |
21 de janeiro de 2018
20 de janeiro de 2018
17 de janeiro de 2018
Outra: O que estás a tentar fazer nem sempre tem bons resultados. Deita fora essa proximidade contigo, põe de lado esse feitiço da rememoração a quente. Põe o lamento na boca de outrem. Desfaz essa amizade com o teu próprio lamento. Deita pela borda fora os objectos sensíveis com os quais encheste a memória, alguns são surpreendentes mas tens de te livrar deles e talvez te reapareçam desfigurados, macerados pelas ondas, transformados em pertenças do mar. Já não são mais teus, já não te protegem. Estão prontos para serem pasto das tuas chamas. Assim como os tens são refractários ao fogo, não consegues transformá-los em cinzas. E é isso por que anseias, sem saberes como fazê-lo. Tenta o que te disse. Requer uma disciplina feroz, uma frieza, um desprendimento, a que terás de obedecer sem teres de te decidir. Às vezes, sem dares por nada, já começaste a experiência que, também inadvertidamente, interrompes, e de novo te prendes amorosamente às tuas lembranças. Não encostes o ouvido à concha, o segredo que ouvias foi enterrado. Agora desce entre os mortos. Ao terceiro dia, ressurreição. Isso não sei.
Maria Filomena Molder
Maria Filomena Molder
12 de janeiro de 2018
rascunhos
tenho textos guardados no blogue que já não sei se fui eu a escrever. não me lembro de os ter escrito e não me lembro de os ter copiado. estão, por isso, indefinidamente guardados nos rascunhos, onde anoto as ideias e de onde raramente apago alguma coisa. se fui eu a escrevê-los, não me lembro quando foi. podem ter passado anos ou apenas uma semana, é assim que funciona a minha memória, reduzida a uma dúzia de acontecimentos da minha vida e, com algum esforço, às necessidades prementes do dia-a-dia. com ou sem legitimidade transformo tudo o resto, de facto a ficcional e também inversamente. dou pouca importância aos factos na medida em que sirvam ou não para a sua descrição e, assim, um facto que não encontra o seu lugar na escrita é merecedor do meu desprezo, seja ele qual for. pelo contrário, factos ambíguos, híbridos e em metamorfose agradam-me e desafiam-me. tanto quanto vejo, é-me difícil diferenciar um facto ocorrido de um facto escrito e, quando leio, acontece frequentemente pensar que já vivi o que ali está escrito, tal como, quando me acontece alguma coisa, digamos, ver cair uma couve no supermercado e rolar até debaixo dos mostruários, pode ter o efeito de uma febre tão intensa que me julgo capaz de extrair dali um romance.
tenho textos guardados no blogue que já não sei se fui eu a escrever. não me lembro de os ter escrito e não me lembro de os ter copiado. estão, por isso, indefinidamente guardados nos rascunhos, onde anoto as ideias e de onde raramente apago alguma coisa. se fui eu a escrevê-los, não me lembro quando foi. podem ter passado anos ou apenas uma semana, é assim que funciona a minha memória, reduzida a uma dúzia de acontecimentos da minha vida e, com algum esforço, às necessidades prementes do dia-a-dia. com ou sem legitimidade transformo tudo o resto, de facto a ficcional e também inversamente. dou pouca importância aos factos na medida em que sirvam ou não para a sua descrição e, assim, um facto que não encontra o seu lugar na escrita é merecedor do meu desprezo, seja ele qual for. pelo contrário, factos ambíguos, híbridos e em metamorfose agradam-me e desafiam-me. tanto quanto vejo, é-me difícil diferenciar um facto ocorrido de um facto escrito e, quando leio, acontece frequentemente pensar que já vivi o que ali está escrito, tal como, quando me acontece alguma coisa, digamos, ver cair uma couve no supermercado e rolar até debaixo dos mostruários, pode ter o efeito de uma febre tão intensa que me julgo capaz de extrair dali um romance.
11 de janeiro de 2018
passei lá a ver se te via
é sobretudo no interior do país que os sítios assim resistem, lugares onde passamos a fim de ver se encontramos um amigo. são lugares importantes, tanto quanto a caminhada que nos leva a eles, cheia de entusiasmo, uma ligeira ansiedade e propósito. o que desaparece com esses lugares contribui para o nosso isolamento e para a crença de sermos náufragos inúteis e esquecidos. são tão importantes que temo encontrar neles o sinal inultrapassável da nossa bondade.
é sobretudo no interior do país que os sítios assim resistem, lugares onde passamos a fim de ver se encontramos um amigo. são lugares importantes, tanto quanto a caminhada que nos leva a eles, cheia de entusiasmo, uma ligeira ansiedade e propósito. o que desaparece com esses lugares contribui para o nosso isolamento e para a crença de sermos náufragos inúteis e esquecidos. são tão importantes que temo encontrar neles o sinal inultrapassável da nossa bondade.
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