4 de junho de 2016

A grandeza do homem é grande porque ele se reconhece miserável. Uma árvore não se reconhece miserável. É portanto ser miserável reconhecer-se miserável; mas é ser-se grande reconhecer que se é miserável.

Blaise Pascal

3 de junho de 2016

uma saudade, como cimento nas veias, enquanto me impeço de te escrever.
escrever é um ato de pura obediência. por toda a parte onde vou estou disposta à abertura silenciosa e nada desejo senão poder recolher-me absolutamente para escrever o que nela encontro. por toda a parte.


Long years ago indeed, as now
There sang the nightingale;
The sound was truly sweet;
Then, we were together.
I sing and cannot weep,
And thus, alone, I spin
The bright, clean threads
As long as the moon shines.

When we were together,
Then sang the nightingale;
Now her sound reminds me
That you are gone from me.

However often the moon shines,
I think on you alone;
My heart is bright and clean;
God grant we be united!

Since you have gone from me,
The nightingale sings constantly;
Her sound makes me think
How we were together.

God grant we be united
Where, so alone, I spin;
The moon shines bright and clean;
I sing, and would weep.
O suicídio, único acto verdadeiramente normal, por que aberração se tornou apanágio dos tarados?

E. M. Cioran, Esboços de vertigem.
Avanço debaixo do sol tórrido avenida abaixo. Não tinha nome esta rua e continuo sem saber o nome que lhe deram. De um lado, o hipermercado e, mais à frente, do mesmo lado, as casas novas e a escola onde andei. Do outro lado, o jardim de infância e, mais à frente, do mesmo lado, cafés e casas novas. Tudo isto foi construído após a minha partida. Se comparar os dois tempos, antes e após, passado e contemporâneo, antigo e novo, tudo está diferente. Onde agora existem lojas, prédios, escolas, um hospital e muitos carros, não havia nada senão oliveiras e erva. A avenida, feita de pó, não tinha sombras e custava atravessar, no verão por causa do sol em brasa, no inverno por causa da lama. Volto a atravessá-la com o mesmo sentimento de outrora. Esta terra, com as suas oliveiras e a serra a dominar a paisagem atrás das casas, ter-me-ia afundado na loucura. Os 18 anos que aqui vivi estiveram imersos num claro «tenho de sair daqui» e, ainda hoje, corto cuidadosamente as amarras que me ligam a este lugar. Quando venho, saio pouco de casa, para evitar o contacto com as pessoas. O lodo. Nada era possível e nada teria sido possível. Um tremendo sufoco, angústia, fechamento e solidão impregnavam os meus dias. Isso e um estranho sentimento de nojo perante os meus conterrâneos, apesar do qual, na maioria das vezes, evitava chocar sensibilidades. Era daí que provinha o mais terrível esforço, de ter de me esconder. Levei anos a subtrair-me ao silêncio conspirativo que me devorava e a descobrir que nem tudo é solidão e adversidade. Farejei com desespero esses bandos, procurando um lugar neles mas nunca compreendi as pessoas cuja existência não ressoa como um equívoco. Assim que surgiu a oportunidade, corri para o mais longe possível. Que me esquecessem, era o meu desejo, habitando casas que sempre me foram estranhas. Daí que, aprendi cedo, o amor é uma força cega que não traz necessariamente bem estar e conforto. Há amores cuja intensidade nos isola, que funcionam como um escudo entre nós e o mundo, perigosa e tragicamente, entre nós e nós próprios. Mas até no chão da batalha a vida se intromete, incólume.

2 de junho de 2016

o amor faz parte da engrenagem do mundo tal como a chuva e o vento. e exatamente nessa proporção.
Isto é... Bom, o que pode existir além disso? Ter uma pequena infância comum, uma infância comum cheia de paixão. Nada. Nada, absolutamente nada pode existir para além disso.

*

Já o disse em Hiroshima Mon Amour: o que conta não é a manifestação do desejo, da tentativa amorosa. O que conta é o inferno da história única. Nada a substitui, nem uma segunda história. Nem a mentira. Nada. Quanto mais a provocamos, mais ela foge. Amar é amar alguém. Não há um múltiplo da vida que possa ser vivido. Todas as primeiras histórias de amor se quebram e depois é essa história que transportamos para as outras histórias. Quando se viveu um amor com alguém, fica-se marcado para sempre e depois transporta-se essa história de pessoa a pessoa. Nunca nos separamos dele. Não podemos evitar a unicidade, a fidelidade, como se fôssemos, só nós, o nosso próprio cosmo.

Marguerite Duras

1 de junho de 2016

Emily Dickinson

31 de maio de 2016

Que rudimentares são as nossas emoções.