16 de fevereiro de 2016
uma profunda inquietação apodera-se da personagem que, silenciosa, abre os olhos e levanta a cabeça. está adormecida, depois de ter recebido um duro golpe. dirige o olhar para o leitor. chama de volta a falsidade e jura que falará a verdade. a desproporção daquilo que se prepara no suspense e a sua situação real, envolve-a numa espécie de feitiço, estonteante, de que se mantém inteiramente consciente mas vê-se incapaz de resolver o paradoxo. o seu enigma é tão monstruoso que começa a interpretar as palavras de forma incorreta. a perturbação interior transforma-se em ansiedade e a ansiedade em angústia. é impossível ficar indiferente ao seu isolamento. descobre agora todas as omissões propositadas, as incompletudes, a fragmentação, a radicalidade do mutismo mas, pasmada, não consegue sentir cólera pelo que, digamos, de forma tão verdadeira se revela na sua representação. incapaz porém de retornar à sua natureza, mais do que nunca dúbia e incerta, logo a seguir abandona o livro.
15 de fevereiro de 2016
14 de fevereiro de 2016
a diferença entre cuidarmos de nós próprios e o individualismo é saber desprover-se de si em prol de outrem, coisa que não se explica, se pede ou se espera e raramente encontra reciprocidade. nas vidas limitadas e limitantes que levamos, frequentemente mais não sabemos sobre a generosidade do que designar as suas restrições.
12 de fevereiro de 2016
11 de fevereiro de 2016
6 de fevereiro de 2016
as pessoas que me amam são as pessoas mais extraordinárias do mundo. não porque eu goste de ser amada, embora goste, mas antes porque têm a capacidade de ver para além daquilo que aparentemente é disforme e formado por intrincadas, obscuras arestas. vislumbrar a inocência entre aquilo que é selvagem, a elegância entre o que é grosseiro e a constância entre o que é violento, não é para todos e, por isso, muito as admiro.
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